Pesquisa revela potencial do THC no combate ao envelhecimento cerebral

A pesquisa, conduzida pelo Hospital Universitário de Bonn (UKB) e a Universidade de Bonn, em colaboração com a Universidade Hebraica de Israel, foi realizada em camundongos e traz esperanças para tratamentos que combatam o declínio cognitivo associado à idade

Publicada em 18/09/2024

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Por Leandro Maia

Um novo estudo aponta que uma dose baixa e contínua de tetrahidrocanabinol (THC) pode reverter processos de envelhecimento no cérebro e promover efeitos antienvelhecimento gerais. A pesquisa, conduzida pelo Hospital Universitário de Bonn (UKB) e a Universidade de Bonn, em colaboração com a Universidade Hebraica de Israel, foi realizada em camundongos e traz esperanças para tratamentos que combatam o declínio cognitivo associado à idade.

 

THC rejuvenesce funções cognitivas

 

Publicado na revista ACS Pharmacology & Translation Science, o estudo mostrou que o THC pode rejuvenescer as funções cognitivas em camundongos mais velhos. Pesquisadores descobriram que o THC influenciou vias moleculares importantes no cérebro, particularmente o receptor canabinoide tipo 1 (CB1), que está relacionado ao envelhecimento cerebral.

O envelhecimento é comumente associado à deterioração das células cerebrais. Estudos anteriores sugeriram que o sistema endocanabinoide desempenha papel crucial nesse processo, e a atividade do receptor CB1 foi apontada como um possível fator-chave. A perda dessa atividade tem sido ligada a déficits relacionados à idade, como aprendizado e memória prejudicados.

 

Efeitos do THC na atividade do mTOR e no metabolismo

 

A equipe de pesquisa focou no impacto do THC na proteína mTOR, um regulador central do envelhecimento, metabolismo e crescimento celular. Em camundongos mais velhos, o THC aumentou temporariamente a atividade do mTOR no hipocampo — região cerebral essencial para o aprendizado e a memória. Este aumento foi acompanhado por níveis mais elevados de proteínas sinápticas, essenciais para a comunicação entre neurônios.

Curiosamente, após 14 dias de tratamento com THC, a atividade metabólica no hipocampo dos camundongos também foi intensificada, indicando maior produção de energia para processos celulares. No entanto, essas mudanças se normalizaram no dia 28, sugerindo um efeito de fase dupla: um impulso inicial seguido de uma mudança para conservação de energia e metabolismo reduzido.

 

Efeitos sistêmicos e antienvelhecimento

 

Além dos efeitos cerebrais, o tratamento com THC reduziu a atividade da proteína mTOR no tecido adiposo dos camundongos e diminuiu os níveis de aminoácidos e carboidratos, um efeito semelhante à restrição calórica ou ao exercício físico intenso. “O tratamento de longo prazo com THC inicialmente tem um efeito de aumento da cognição ao elevar a energia e a produção de proteína sináptica no cérebro, seguido por um efeito antienvelhecimento ao diminuir a atividade de mTOR e os processos metabólicos na periferia”, explicou Andras Bilkei-Gorzo, pesquisador do UKB e da Universidade de Bonn.

 

Limitações do estudo e próximos passos

 

Apesar das descobertas promissoras, os pesquisadores ressaltam que o estudo foi conduzido em camundongos. Há diferenças significativas entre esses animais e humanos, o que torna incerto se os mesmos efeitos seriam observados em pessoas. Estudos adicionais são necessários para explorar as aplicações terapêuticas do THC em populações envelhecidas.

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