Assim como a sexta-feira 13, a cannabis também é repleta de mitos. Vamos desvendá-los

A cannabis medicinal, que hoje é reconhecida por seu valor terapêutico em uma série de condições de saúde, ainda é estigmatizada por muitos mitos

Publicada em 13/09/2024

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Por Leandro Maia

A sexta-feira 13, considerada por muitos como um dia de azar, carrega consigo uma série de superstições e crenças populares que foram construídas ao longo dos séculos. A história que cerca essa data está repleta de lendas e mistérios, desde as tradições pagãs até a mitologia nórdica. No entanto, assim como as crenças em torno da sexta-feira 13, a cannabis – especialmente seu uso medicinal – também está cercada de uma série de mitos, que muitas vezes afastam as pessoas de seu real potencial terapêutico.

A superstição sobre a sexta-feira 13 teve início em diversas culturas, como a mitologia nórdica, em que o deus Loki apareceu como o 13º convidado indesejado em um banquete de 12 divindades, resultando em tragédia. A Igreja Católica, por sua vez, também ajudou a popularizar a ideia de que a sexta-feira e o número 13 eram símbolos de azar e bruxaria. Essa "demonização" de elementos culturais é semelhante ao que aconteceu com a cannabis ao longo dos anos, quando seu uso, tanto medicinal quanto recreativo, foi marginalizado e repleto de desinformação.

A cannabis medicinal, que hoje é reconhecida por seu valor terapêutico em uma série de condições de saúde, ainda enfrenta barreiras devido a mitos persistentes. Um dos equívocos mais comuns é a confusão entre o uso medicinal e o uso recreativo da planta. É preciso entender, antes de mais nada, que a Cannabis sativa é um planta com propriedades medicinais. A Anvisa propôs, em fevereiro de 2024, a inclusão da inflorescência de cannabis na farmacopeia brasileira.  O uso medicinal da cannabis se dá pelos fins terapêuticos, com seus componentes principais, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), extraídos da planta e transformados em compostos farmacêuticos, como óleos e tinturas". Antigo Egito utilizava cannabis para fins medicinais há milênios

Por outro lado, o uso adulto (ou recreativo) da planta de cannabis tem o objetivo de proporcionar prazer, geralmente por meio da inalação de fumaça, porém, o uso inalatório é utilizado para o tratamento de patologias como alguns tipos de epilepsia devida a rápida absorção e resposta do organismo nos casos de crises intensas do paciente. 

Quando não se sabe a procedência da substância, outros riscos podem ser acarretados à saúde, já que a fumaça em si pode conter substâncias prejudiciais. Além disso, o uso adulto pode trazer riscos, principalmente em jovens, que podem desenvolver transtornos como psicoses devido ao uso inadequado. 

 

Cannabis mata neurônios? 

 

Você já deve ter ouvido essa afirmação "cannabis mata neurônios" muitas vezes. É importante esclarecer. Na verdade, estudos mostram que, na verdade, os compostos da planta são neuroprotetores e podem proteger o sistema nervoso central. 

Esse mito específico surgiu de um estudo conduzido nos Estados Unidos na década de 1970, no qual macacos inalaram grandes quantidades de maconha em condições extremas. No entanto, o verdadeiro causador da morte dos neurônios dos animais foi o monóxido de carbono presente na fumaça, e não a cannabis em si. A verdade é que a cannabis medicinal, quando utilizada corretamente, pode ser uma ferramenta poderosa para tratar uma série de condições.

Entre as condições que podem ser tratadas com a cannabis medicinal estão epilepsia refratária, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Parkinson e artrite reumatoide. Além disso, muitas pessoas que sofrem de dores crônicas e inflamações têm se beneficiado do tratamento com cannabis, que possui efeitos colaterais menos agressivos quando comparados a alguns medicamentos alopáticos tradicionais. 

Outro mito comum é o de que a cannabis medicinal pode causar dependência. Isso, no entanto, é refutado por especialistas. Os efeitos colaterais observados são muito menos prejudiciais ao organismo quando comparados a outras substâncias, e a planta não possui o risco de dependência química como outros substâncias. 

Produtos à base de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) podem ser utilizados de maneira complementar em determinadas condições clínicas. Enquanto o CBD é mais utilizado em tratamentos para epilepsia e ansiedade, o THC pode ser eficaz no manejo de dores agudas, sendo administrado por via inalável para uma ação mais rápida. A escolha entre produtos de espectro completo (contendo todos os fitocanabinoides) ou isolados (com apenas CBD) depende do quadro clínico do paciente e deve ser avaliada por um médico.

No Brasil, o cultivo de cannabis ainda é restrito a algumas associações e universidades, e pacientes que desejam ter acesso à planta em sua forma natural precisam recorrer a autorizações judiciais. 

Assim como as histórias em torno da sexta-feira 13, os mitos sobre a cannabis foram construídos ao longo do tempo, e é essencial que sejam desmistificados para que o público possa compreender a verdade. O uso medicinal da cannabis tem ajudado a transformas a vida de diversos pacientes como é o caso do Rafael, diagnosticado com autismo severo, que se recuperou das crises de autoagressão e convulsões.