Glaucoma: CBD não é indicado para o tratamento, mas outros canabinoides podem ajudar

Estudos recentes colocam o THC e o CBN como principais canabinoides que podem auxiliar no tratamento da patologia

Publicada em 16/09/2024

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Por Bruno Vargas

O glaucoma, segunda principal causa de cegueira no mundo, é uma doença crônica, progressiva e degenerativa que afeta o nervo óptico, responsável por conectar o olho humano ao cérebro e transmitir os impulsos visuais. De acordo com a Associação Mundial do Glaucoma, estima-se que cerca de 80 milhões de pessoas sofram da doença globalmente.

As causas mais comuns incluem idade avançada, predisposição genética, espessura da córnea e diabetes. Nos estágios iniciais, o glaucoma é geralmente assintomático. Com o tempo, os pacientes começam a perder a visão periférica, e, nos estágios mais avançados, a visão central também pode ser comprometida, podendo levar à cegueira total.

Desde a década de 1970, os canabinoides têm sido estudados como potenciais tratamentos antiglaucoma. Pesquisas dessa época mostraram que fumar cannabis poderia reduzir a pressão intraocular (PIO), mas os efeitos eram temporários e menos eficazes que os tratamentos convencionais.

Segundo o oftalmologista Ricardo Freire Gurgel, o tetrahidrocanabinol (THC), um canabinoide psicoativo, apresenta efeitos hipotensores, diminuindo a PIO. Um estudo em camundongos, publicado na Investigative Ophthalmology & Visual Science, relatou uma redução substancial de 28% na PIO por 8 horas após a administração de THC.

Eficácia do CBN

Formulações à base de canabinol (CBN) têm demonstrado potencial na redução da PIO e na neuroproteção das células da retina. Estudos pré-clínicos de segurança e toxicologia, além de ensaios clínicos de fase 1 em dermatologia conduzidos por uma empresa canadense, indicam que o CBN é seguro e bem tolerado.

Essas pesquisas também sugerem que o CBN possa proporcionar o tão desejado "efeito duradouro" em colírios para tratamento ocular.

CBG, um dos grandes aliados 

O canabigerol (CBG) atua por meio da interação com receptores canabinoides no cérebro e nos olhos, ajudando a modular processos como inflamação e dor, que são relevantes para o tratamento do glaucoma. O CBG tem mostrado propriedades para reduzir a PIO e tem também um efeito neuroprotetor, o que pode ajudar a controlar a progressão da doença, segundo Gurgel.

CBD não é indicado para o tratamentos 

Diferentemente de outros canabinoides, o canabidiol (CBD) não é recomendado para o tratamento do glaucoma. “O CBD provoca midríase – dilatação da pupila – e, em alguns pacientes, especialmente aqueles com câmara anterior mais estreita, pode levar a um aumento da pressão intraocular”, explica Gurgel.

Além disso, conforme a pesquisa publicada na Investigative Ophthalmology & Visual Science relatou que o CBD pode interferir nos efeitos positivos do THC.

Controvérsias no uso de canabinoides

Para Gurgel, o número de estudos que comprovam a eficácia da cannabis no tratamento de doenças oculares ainda é limitado. Devido à falta de pesquisas robustas, o uso de canabinoides no tratamento do glaucoma ainda é um tema controverso entre médicos.

“Alguns especialistas questionam o uso da cannabis devido à possibilidade de redução da pressão arterial em pacientes com glaucoma”, comenta Gurgel. “No entanto, não observamos essa redução, e essa preocupação não tem base científica sólida”, conclui o oftalmologista.