Como a cannabis afeta o DNA

Pesquisadores da Universidade Northwestern (EUA) identificam associações entre o uso cumulativo dos derivados da planta e alterações epigenéticas, levantando questões sobre os impactos a longo prazo

Publicada em 07/09/2024

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Por João Negromonte

A cannabis, amplamente utilizada por milhões de pessoas ao redor do mundo, está se tornando objeto de estudo em diversas áreas da ciência, incluindo a genética. Uma pesquisa conduzida por epidemiologistas da Universidade Northwestern revelou que o uso prolongado e cumulativo de cannabis pode influenciar modificações epigenéticas no DNA, levantando questões sobre os efeitos dessa substância na saúde ao longo do tempo.

 

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Cannabis Sativa L. | Foto: Vecteezy

 

Metilação do DNA e cannabis

O estudo da Northwestern acompanhou cerca de 1000 adultos durante um período de 20 anos, analisando seus hábitos de consumo dos derivados da planta. Os participantes forneceram amostras de sangue no 15º e no 20º ano do estudo, permitindo que os cientistas analisassem possíveis mudanças epigenéticas ao longo do tempo. Os pesquisadores focaram em um processo específico conhecido como metilação do DNA — adição de pequenos grupos metil às moléculas de DNA. Embora essa alteração não modifique o código genético em si, ela pode influenciar a forma como os genes são "lidos" e expressos pelas células.

A pesquisa identificou uma ligação significativa entre o consumo de cannabis e a presença de marcadores epigenéticos específicos. No 15º ano do estudo, foram encontrados 22 marcadores associados ao uso recente de cannabis e 31 ligados ao uso cumulativo. Já no 20º ano, os números aumentaram significativamente, com 132 marcadores relacionados ao uso recente e 16 ao consumo prolongado.

Potenciais impactos na saúde

Essas modificações epigenéticas podem desempenhar um papel importante em diversos processos biológicos e, em alguns casos, estão associadas a condições de saúde, como distúrbios neurológicos e transtornos relacionados ao uso de substâncias. Um dos marcadores encontrados pelos pesquisadores também foi associado ao uso de tabaco, sugerindo que tanto o cigarro quanto a maconha podem afetar o epigenoma de maneiras semelhantes.

Segundo a epidemiologista Lifang Hou, uma das autoras do estudo: "foram observados associações entre o uso cumulativo de cannabis e múltiplos marcadores epigenéticos ao longo do tempo". A descoberta destaca que fatores externos, como o uso de substâncias, podem influenciar a metilação do DNA e, potencialmente, serem transmitidos para gerações futuras.

Necessidade de mais estudos

Apesar das descobertas, os pesquisadores ressaltam que o estudo não prova que a cannabis cause diretamente essas alterações ou problemas de saúde. O epidemiologista Drew Nannini, também da Northwestern, enfatizou a importância de estudos futuros: "Mais pesquisas serão necessárias para confirmar essas associações em diferentes populações e entender melhor os impactos de longo prazo da cannabis na saúde."

O avanço desses estudos poderá trazer novas perspectivas sobre o uso de cannabis e suas consequências genéticas, contribuindo para decisões mais informadas tanto no campo médico quanto nas políticas públicas.
 

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