Cânhamo como substituto sustentável das fibras de vidro

Uma equipe da Fraunhofer IWU em Zittau, em colaboração com a Universidade de Ciências Aplicadas de Zittau/Görlitz, tem se dedicado ao desenvolvimento de compostos que utilizam fibras naturais em vez de vidro

Publicada em 30/08/2024

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Por Bruno Vargas

O uso de materiais compostos por fibras está presente em diversos setores, desde itens domésticos até componentes automotivos e esportivos. Tradicionalmente, os plásticos reforçados com fibra de vidro (GRP) têm sido a escolha preferida devido à sua leveza e versatilidade.

No entanto, a produção de fibra de vidro é notoriamente intensiva em carbono, gerando grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa. Além disso, a reciclagem e o descarte dos materiais GRP são complexos e ambientalmente prejudiciais. Buscando alternativas mais ecológicas, pesquisadores têm explorado o potencial das fibras naturais, com destaque para as fibras de cânhamo.

Uma equipe da Fraunhofer IWU em Zittau, em colaboração com a Universidade de Ciências Aplicadas de Zittau/Görlitz, tem se dedicado ao desenvolvimento de compostos que utilizam fibras naturais em vez de vidro. Liderados por Rafael Cordeiro, os pesquisadores demonstraram que é possível substituir as fibras de vidro por fibras de cânhamo sem comprometer a qualidade ou a funcionalidade do produto.

Um exemplo prático desse avanço é o desenvolvimento de um revestimento SMC (Sheet Molding Compound - composto para moldagem de folhas), produzido com o cânhamo no lugar do vidro ou do carbono. O SMC é um material de poliéster reforçado feito de uma combinação de fibras longas cortadas, cargas minerais e resina termoendurecível.


Segundo os pesquisadores a proporção de peso de fibras natuais no SCM desenvolvido com fibras de vidro é de 15%. Com o uso de uma resina de base biológica, com matriz do cânhamo a proporção de componentes naturais no material pode chegar a 38%.

Uma das grandes vantagens do SMC de fibra natural é a sua produção relativamente simples e com baixo custo. Segundo Cordeiro, o material pode ser produzido em grande escala com pequenas adaptações nas instalações existentes, tornando-o uma opção comercialmente viável. Além disso, o novo composto reduz significativamente os riscos à saúde, como irritação da pele e das vias respiratórias, associados ao manuseio de fibras de vidro. O processo de produção de fibras de cânhamo também emite consideravelmente menos CO2 do que o de fibras de vidro, contribuindo para uma pegada de carbono reduzida.

Apesar dos avanços, o SMC de fibra natural ainda enfrenta desafios em termos de sustentabilidade. Atualmente, o material não é reciclável nem completamente biodegradável. No entanto, os pesquisadores estão trabalhando em métodos para separar as fibras naturais da matriz e do enchimento, o que permitiria a compostagem das fibras e a reutilização dos componentes minerais.

O projeto, financiado pelo Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha, faz parte da parceria estratégica LaNDER³, que visa fortalecer a colaboração entre ciência e indústria. Embora o SMC de fibra natural ainda não seja a solução perfeita, ele já representa uma melhoria significativa em relação aos compósitos tradicionais reforçados com fibra de vidro, mostrando que alternativas mais sustentáveis estão ao nosso alcance.

Com a crescente demanda por materiais sustentáveis, as fibras de cânhamo surgem como uma solução promissora, oferecendo uma combinação de desempenho, custo-efetividade e menor impacto ambiental. Essa inovação não só responde às exigências do mercado, como também contribui para um futuro mais verde e consciente.

 

Com informações de biooekonomie 

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