Cânhamo como agente na regeneração e descontaminação do solo

5 milhões de sementes foram lançadas em vegetações afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul; o cânhamo poderia ajudar no processo de reconstrução

Publicada em 30/07/2024

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Por Bruno Vargas

Durante o Dia Nacional de Proteção às Florestas, 5 milhões de sementes foram lançadas em vegetações afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. O replantio em áreas de encostas e morros tem como objetivo recuperar a vegetação e o solo danificados durante a crise climática. A iniciativa incluiu cerca de 28 espécies como angico, jabuticabeira, maricá e timbaúva.

A ação, que ocorreu em Santa Clara do Sul, Marques de Souza e Pouso Novo, uniu a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), prefeituras e universidades locais.

As sementes de cânhamo não foram selecionadas para integrar a iniciativa. Mas, “com certeza poderiam ser utilizadas para regeneração do solo”, comenta o engenheiro agrônomo e presidente da Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial (LAIHA), Lorenzo Rolim.

 

Propriedades do cânhamo

 

“O cânhamo auxilia na absorção de metais pesados do solo - que devem ter vazado durante as enchentes”, explica Rolim ao falar sobre as propriedades regenerativas da planta, capaz de remover chumbo, arsênio, zinco, cádmio e outros.

Junto a isso, devido ao sistema radicular - responsável pela conexão entre as plantas e o solo -, o cânhamo consegue melhorar a estruturação do terreno. As raízes profundas da cannabis são capazes de retirar águas que ficam nas produndidades do loca.

Somente entre os dias 1º e 7 de maio, o Rio Guaíba recebeu um volume de 14,2 trilhões de litros de água, de acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).    

 

Solo agrícola

 

As cheias também afetaram solos utilizados para agricultura no RS. Segundo levantamento da Emater-RS (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), ao menos 2,7 milhões de hectares de terra tiveram perdas de fertilidade ou erosão hídrica em todo o estado.

Para Rolim, da mesma maneira que outras plantas, o cânhamo pode participar do processo de rotação de cultura, uma alternância entre espécies vegetais numa mesma área agrícola. “Se o produtor planta soja no verão, o cânhamo entra no inverno”, explica. Segundo o engenheiro agrônomo, esse processo traz benefícios, como melhoramento da qualidade física do solo, redução no número de pragas - plantas invasoras e insetos - e a citada anteriormente, absorção dos metais pesados.

 

Utilização em outros países

 

Anos após o maior acidente nuclear da história que ocorreu em 1986, na usina de Chernobyl, na Ucrânia, grandes áreas no entorno da cidade abandonada foram cobertas de pés de cânhamo para descontaminar o solo. Com a ação, foram aproveitadas a capacidade da cannabis de realizar fitorremediação, um método que utiliza plantas para degradar, extrair ou imobilizar contaminantes do solo e da água.

A iniciativa de usar cânhamo para retirar elementos tóxicos do solo da zona de exclusão foi da empresa americana de biotecnologia Phytotech, em parceria com a Academia Ucraniana de Ciências Agrárias. O experimento demonstrou que o cânhamo pode extrair cerca de 1% do césio do solo, um resultado considerado positivo, pois a técnica poderia ser associada a outras para ajudar na recuperação da área.

Já este ano, em 2024, Portugal apresentou uma proposta para lidar com a contaminação por resíduos químicos na Praia de Vitória, região dos Açores. Por décadas, o local foi contaminado por altos níveis de metais pesados, resultando em uma crise ambiental de grandes proporções.

“É hora de abraçar a cannabis como uma aliada na recuperação ambiental e no desenvolvimento sustentável de Portugal”, comentou Graça Castanho, presidente da Confraria Internacional da Cannabis em Portugal, instituição que apresentou esta proposta.