"A melhor escolha que fiz foi usar canabidiol na gestação", afirma Francis Mayry

Diagnosticada com síndrome de Down, a pequena Antonela superou uma cirurgia no coração

Publicada em 05/07/2024

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Por Bruno Vargas

“Com certeza, a melhor escolha que eu fiz foi usar canabidiol durante a gestação”. Esta afirmação foi feita pela paciente e empresária da cannabis, Francis Mayry, cerca de dois meses atrás, dias antes de deixar o hospital junto com sua filha Antonela.

Na ocasião, a bebê de três meses realizou uma cirurgia delicada - e bem-sucedida - de correção do defeito do septo atrioventricular (DSAV), localizado no coração humano. DSAV é a cardiopatia congênita mais frequente em crianças com síndrome de Down, alteração genética que está presente na pequena Antonela.

Ainda no hospital, a sempre alegre Francis afirmou que estava pronta para dar todo amor, carinho e apoio para sua filha. “Vamos cuidar e estimular o desenvolvimento motor e cognitivo dela. Fiquei muito feliz com a minha gestação e com o nascimento da minha terceira filha”, ressalta a mãe.

Cerca de duas semanas atrás, com cinco meses e meio, Antonela iniciou seu acompanhamento da parte motora com o fisioterapeuta Lucas Villalta. “O desenvolvimento dela não é igual ao de um bebê típico, mas, no geral, é mais avançado que os bebês com síndrome de Down”, explica o fisioterapeuta.  

Canabidiol na gestação

A pedido de seu médico, Francis, paciente canábica há cerca de 13 anos, no início da gestação suspendeu o seu tratamento com canabidiol. Ação que não durou muito tempo. Ao descobrir a condição de sua filha, a empresária retomou o uso da cannabis, ainda durante a gravidez. 

"Minha bebê com 25 semanas de gestação foi diagnosticada com síndrome de Down. Retomei o uso do canabidiol pois sabia dos efeitos positivos da cannabis a mais de uma década, substância produzida pelo próprio corpo humano. Hoje colho os frutos dessa decisão", comenta Mayry  

Para a presidente do Instituto Mães da Cannabis, a decisão de aliar canabidiol e gestação foi a melhor possível. “Talvez se eu não tivesse voltado com o uso, ela poderia ter mais dificuldade no seu desenvolvimento. Os médicos já me contaram que a Antonela foge do padrão”, ressalta Francis.

A mãe, ainda comenta que sua filha não teve dificuldade para mamar, está realizando expressões faciais e gestos corporais. Além disso, Antonela nasceu com pouca hipotonia, uma diminuição na resistência ao movimento passivo, causadora de dificuldade para segurar a cabeça, falta de força corporal, problema de postura e no maxilar, afetando a fala e articulação das palavras. 
   
"Ter uma hipotonia leve  auxilia na resposta aos estímulos do tratamento. A elasticidade e a resistência dela são muito próximas ao normal”, ressalta Villalta.

Próximos passos do tratamento

Por conta da antecipação do hiperfluxo pulmonar, sintoma que causa falta de ar nos bebês, Antonela precisou fazer a cirurgia antes do período normal - de quatro a seis meses. Segundo Francis, em um primeiro momento foi difícil, pois sua filha estava com inchaços no corpo e vários cateteres, mas, com o passar do tempo, a situação foi se normalizando até chegar a hora de ir para casa.

“Após a alta do hospital, a vida segue normal. Estamos realizando acompanhamento com médicos, sempre atentando para a saúde da Antonela e entendendo o momento certo de começar o tratamento com o canabidiol. Acreditamos que a cannabis pode auxiliar no desenvolvimento motor e cognitivo dela”. Ressalta a empresária.  

Avaliação médica

Para a ginecologista Mariana Prado, ainda não é possível afirmar que a ingestão de canabinoides durante a gestação é benéfico para o desenvolvimento do bebê. Segundo ela, caso o paciente utilize a cannabis de maneira adulta, o uso deve ser descontinuado. Os usuários de óleo e produtos medicinais, precisam contatar seu médica para realizar uma avaliação quanto a necessidade ou não do remédio.

“Conforme os órgão de Obstetrícia, o uso de cannabis na gestação deve ser desencorajado, principalmente devido ao THC”, relata a ginecologista.  

Prevalência científica

Estudos conduzidos na Universidade de Marseille, na França, e apresentados no Fórum 2024 da Federação das Sociedades Europeias de Neurociências (FENS) apontam que a cannabis pode não ser tão inofensiva durante a gestação. Segundo a pesquisa desenvolvida em ratos, a exposição ao CBD pode afetar os neurônios no córtex insular do cérebro.

Já uma pesquisa publicada na revista Pediatric and Perinatal Epidemiology relatou que crianças expostas à cannabis durante a gravidez não demonstraram déficits clínicos de desenvolvimento neurológico ao longo da vida. O tema ainda gera debate entre os médicos. 

Conforme Mariana, o uso da cannabis durante a gestação continua crescendo e precisa ser melhor estudado.