"Tentamos essa possibilidade ou eu vou morrer", diz pai de jardineiro sobre uso medicinal da cannabis
Paciente canábico realiza o cultivo e a produção do seu tratamento e o de seu pai; resultados são surpreendentes, segundo Celso Murilo
Publicada em 24/10/2024
Celso Murilo Gava Barreto, médico veterinário de 27 anos, morador de Cândido Mota (SP), iniciou o tratamento com cannabis medicinal aos 21 anos devido a uma condição genética que afeta sua coluna. Desde cedo, convivia com dor crônica e tensão muscular causada por diversas alterações e protusões na medula óssea. Além disso, recentemente foi diagnosticado com fibromialgia, uma condição que intensifica suas dores diárias.
“Meu tórax e meu abdômen contraiam tanto que eu não conseguia respirar”, relembra Celso, que chegou a se retirar por dois meses de suas atividades na Associação Maria Flor devido à intensidade das dores.
Antes de descobrir a cannabis como alternativa terapêutica, além da dor, ele enfrentava insônia, ansiedade e depressão. O impacto foi devastador em sua qualidade de vida, mas a medicina tradicional não conseguiu oferecer o alívio que ele precisava.
O início da jornada com a cannabis
Em 2015, durante o primeiro ano de faculdade de Celso, seu pai sofreu um AVC isquêmico, o que marcou profundamente a vida da família. “Moramos em frente ao hospital, então conseguimos iniciar rapidamente os primeiros socorros”, relembra.
Mesmo assim, o lado direito do cérebro de seu pai foi gravemente afetado, comprometendo suas funções motoras do lado esquerdo, levando a uma perda de quase 50 quilos e, posteriormente, a constantes dores de cabaça geradas pelo vício nos analgésico.
Celso passou três anos tentando convencer o pai a experimentar o tratamento com cannabis. O obstáculo maior era a resistência de seu pai, que, por ser militar, tinha uma visão preconceituosa sobre a planta. No entanto, após uma crise serotoninérgica, ele finalmente aceitou a ideia. "Ou tentamos essa possibilidade ou eu vou morrer”, disse seu pai na época.
Foi então que Celso começou a plantar cannabis para produzir o medicamento do pai. Os resultados foram surpreendentes, seu pai recuperou o apetite, deixou de convulsionar, voltou a dirigir e retomou suas atividades profissionais. "A melhoria na qualidade de vida foi notável, ele retomou sua autonomia e independência", comenta Celos.
Com o passar do tempo, no entanto, as dificuldades para manter o cultivo em casa aumentaram. Em 2022, o pai de Celso passou a usar o óleo de cannabis produzido pela Associação Maria Flor.
“Realizei o curso de especialização e me apaixonei pela associação, entrar em uma estufa com maconha foi algo lindo, incrível”, afirma Celso, que passou a trabalho na associação, contribuindo no plantio. Mais de dois anos depois, cerca de cinco meses atrás, Celso deixou de contribuir como jardineiro e voltou a exerceu sua função de médico veterinário.
A conquista do HC e o autocultivo
Um dos marcos mais recentes na vida de Celso foi a conquista do salvo-conduto para o autocultivo de cannabis, após quase dois anos de espera. Além disso, ele conseguiu um habeas corpus para garantir o tratamento do pai. Agora, é Celso quem produz tanto a sua medicação quanto a do pai.
“Hoje, com a experiência que adquiri sobre a planta, sei o quão importante é o tratamento individualizado”, destaca ele. Celso já testou óleos com diferentes concentrações de CBD e THC e descobriu que o melhor equilíbrio para o seu caso é uma formulação de 1:1. Essa abordagem personalizada tem fornecido o resultado que ele buscava há tanto tempo.