Cannabis auxilia paciente com depressão profunda

Tentando encontrar uma saída para a depressão causada pela perda do marido, Flávia usou medicamentos convencionais, que só pioraram o seu estado

Publicada em 17/07/2024

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Por Bruno Vargas

Há cerca de dois anos, o marido de Flávia Gollop foi diagnosticado com Alzheimer, uma doença degenerativa que trouxe desafios para a família. “Ele ficou sem apetite, perdeu peso, a doença impactou muito ele”, relembra Flávia. Apesar de todo o esforço, seu cônjuge acabou falecendo e ela entrou em um estágio de depressão profunda.    

Tentando encontrar uma saída para a depressão, Flávia recorreu aos medicamentos tarja preta, que, no lugar de aliviar a dor, só pioraram sua condição. “Os remédios me causavam um desânimo tremendo, queria ficar deitada sem fazer nada o dia inteiro. Eu estava muito mal”, relata Flávia.

 

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Flávia Gollop. Imagem: Arquivo Pessoal

 

A virada de chave veio há cerca de quatro meses atrás, quando sua nutróloga Paula Vinha receitou a medicina canabinoide. Como seu marido, diagnosticado com Alzheimer, já havia feito uso da planta, tendo um retardamento nos sintomas e uma melhora significativa, Flávia aceitou tentar os produtos à base da cannabis.

Com a transição para o óleo Full Spectrum, a paciente conseguiu realizar o desmame total dos remédios tarja preta, tendo uma melhora significativa. Nos últimos três meses, a cannabis foi a única medicação usada por ela.

“Mesmo o psiquiatra tentando adequar a dosagem dos tarja pretas eu não me sentia bem. Sinto que eles me deixavam ainda mais deprimida. A cannabis me tirou de uma realidade horrível”, comenta Flávia.

 

Cannabis como tratamento

 

“A cannabis equilibra o Sistema Endocanabinoide. Retira a sensação de ansiedade e estresse, combatendo a depressão”, afirma o psicólogo Lauro Pontes, que caracteriza a patologia como uma exaustão extrema do corpo humano.

Segundo Lauro, a depressão é uma doença multifatorial que deve ser avaliada por médicos, psicólogos, nutricionista e outros profissionais da área da saúde. Para o psicólogo, o tratamento também precisa ser multidisciplinar. “A terapia canabinoide vem em conjunto com o aumento do nível vitamínico e, às vezes, com a participação de medicamentos tradicionais. Cada caso deve ser analisado isoladamente”, completou Lauro.

 

Evidências científicas

 

A depressão é uma doença psiquiátrica crônica que produz alteração do humor, caracterizada por tristeza profunda e associada a sentimentos de dor, baixa autoestima, medo, culpa e pode afetar, até mesmo, o sono e/ou o apetite do indivíduo.

Pesquisadores da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, descobriram em 2007, por meio de um estudo publicado no Journal of Neuroscience, que o THC em baixas doses tem potencial antidepressivo, além de ser um condutor que estimula a produção de serotonina. No entanto, em doses mais altas, o efeito se reverte e pode realmente piorar a depressão e outras condições psiquiátricas, como psicose. Já o CBD, mesmo em doses altas, não causa tais efeitos negativos. Sabe-se que os canabinoides THC e CBD exercem efeitos sedativos, psicoativos, antidepressivos e antipsicóticos nos consumidores quando administrados juntos.

Em 2013, a University Medical Center Utrecht, na Holanda, divulgou por meio do European Neuropsychopharmacology Journal que a cannabis medicinal pode ser a cura para a depressão e outras doenças mentais. A conclusão veio após a realização de estudo que descobriu que o THC consegue alterar o equilíbrio neurológico e, a depender da dosagem, pode diminuir ou aumentar as percepções de emoções negativas.

Outro estudo, de origem nacional denominado “Uso terapêutico dos canabinoides em psiquiatria”, de José Alexandre S. Crippa, Antonio Waldo Zuardi e Jaime E. C. Hallak, publicado em 2010 na Revista Brasileira de Psiquiatria, concluiu que o canabidiol apresenta potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico e antidepressivo. Entretanto, mais estudos ainda são necessários para comprovar esses benefícios contra a patologia em questão.