Tratamento com extrato de cannabis transforma a vida de cão com epilepsia e ansiedade
Após cinco meses de uso do extrato de cannabis, Flora, uma cadela com convulsões constantes, apresenta melhora significativa no controle das crises e na qualidade de vida, reduzindo a dependência de fenobarbital
Neide Griebeler Uma paciente canina com ansiedade, convulsões constantes e uma tutora aflita 24 horas por dia. Assim era a rotina da paciente Flora e da tutora Renata antes da utilização do extrato de cannabis. Quando Flora chegou até mim, ela fazia uso de fenobarbital, fármaco conhecido como primeira linha no tratamento de epilepsia. Contudo, as crises não estavam controladas e, além disso, o efeito adverso de sonolência estava limitando sua qualidade de vida. Atualmente, o fenobarbital e o cloreto de potássio são tratamentos de primeira linha para casos de epilepsia. No entanto, para até 30% dos cães, esses medicamentos podem ser ineficazes, indicando a necessidade de tratamentos adicionais, como no caso da Flora.
Os episódios convulsivos têm início imediato, muitas vezes sem um sinal prévio, e sua duração é variável. O início e a propagação dessas crises são modulados pelos receptores CB1, parte do sistema endocanabinoide, por meio da modulação da atividade neuronal. O CBD e o THC, os fitocanabinóides mais conhecidos, interagem com os receptores CB1 de forma total e parcial, respectivamente. O CBD, componente não psicoativo da cannabis, possui propriedades neuroprotetoras e anticonvulsivantes através de três principais mecanismos: redução da concentração de cálcio no neurônio pré-sináptico, modulação dos receptores GPR55 e TRPV1, que diminuem a concentração de cálcio intracelular, e aumento da concentração de adenosina no meio extracelular, alterando o fluxo de cálcio e potássio e atuando nos neurônios pré e pós-sinápticos.
Devido a essas propriedades do CBD, foi possível melhorar a qualidade de vida da paciente e, por consequência, da tutora. A administração do extrato permitiu a diminuição das doses de fenobarbital, que deixavam a paciente sonolenta e pouco interativa. Como a diminuição é gradual, a paciente segue em desmame, mas já com metade da dose de fenobarbital inicial. Passeios de carro e visitas, que antes eram gatilhos para convulsões, não são mais um problema para a família. O aumento da dose do extrato antes dessas situações permite que Flora controle a ansiedade e evite as crises.
O acompanhamento de marcadores bioquímicos hepáticos durante o tratamento se torna importante, pois tanto o uso do extrato quanto dos anticonvulsivantes usuais podem levar ao aumento dessas enzimas, especialmente a fosfatase alcalina. Altas concentrações de THC devem ser evitadas em pacientes com epilepsia, entretanto, o extrato full spectrum permite o efeito entourage por meio de seus terpenos e fitocanabinóides, trazendo maiores benefícios aos nossos pacientes. No dia 23/12/2024, Flora e a tutora Renata completaram cinco meses de uma nova vida transformada pela cannabis.
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