Dia Mundial da Saúde Mental: 11,7 milhões de brasileiros convivem com depressão

Uso medicinal da cannabis pode ser uma alternativa no tratamento da doença, mas exige acompanhamento especializado

Publicada em 10/10/2024

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Por João Negromonte

Este 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental serve como um alerta global para importância da saúde emocional, destacando a necessidade de debates, conscientização e apoio para milhões de pessoas que enfrentam transtornos mentais. No Brasil, cerca de 11,7 milhões de pessoas convivem com a depressão, o que representa 5,8% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O transtorno, que é considerado uma das principais causas de incapacidade no mundo, afeta o humor, a energia, o apetite, o sono e a capacidade de viver uma vida plena.

A depressão é uma condição complexa, que pode variar entre episódios leves, moderados e graves, exigindo diagnóstico clínico e tratamento multiprofissional. Entre as abordagens terapêuticas, a combinação de medicamentos antidepressivos, psicoterapia e, mais recentemente, o uso medicinal da cannabis, tem se mostrado promissora para aliviar os sintomas da doença.

Cannabis medicinal no tratamento da depressão: avanços e limitações

 

Nos últimos anos, o uso de compostos da cannabis, como o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), tem sido amplamente estudado para tratar diversas condições psiquiátricas, incluindo a depressão. Estudos apontam que o THC, em doses controladas, pode estimular a produção de serotonina, o neurotransmissor associado à sensação de bem-estar e à regulação do humor. Um estudo de 2007 da Universidade McGill, em Montreal, publicado no Journal of Neuroscience, revelou que doses baixas de THC têm potencial antidepressivo. No entanto, em doses mais altas, o efeito pode ser inverso, piorando a depressão e até desencadeando sintomas psicóticos.

Por outro lado, o canabidiol (CBD), mesmo em doses mais elevadas, tem demonstrado efeitos ansiolíticos e antidepressivos sem os riscos psiquiátricos do THC. Pesquisas, como a publicada pela Revista Brasileira de Psiquiatria em 2010, conduzida por José Alexandre Crippa e colegas, indicam que o CBD pode ser uma alternativa eficaz no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão, agindo como um modulador do humor sem os efeitos colaterais comuns dos antidepressivos tradicionais.

Além disso, um estudo da University Medical Center Utrecht, na Holanda, publicado no European Neuropsychopharmacology Journal em 2013, sugeriu que a cannabis medicinal pode alterar o equilíbrio neurológico, modulando a percepção de emoções negativas, dependendo da dosagem utilizada. Esses resultados indicam que, quando administrada de forma adequada e supervisionada por profissionais de saúde, a cannabis pode ser uma aliada importante no tratamento de condições como a depressão.

O uso da cannabis no Brasil: regulamentação e desafios

 

No Brasil, o uso medicinal da cannabis vem crescendo, mas ainda enfrenta desafios em termos de regulamentação e acesso. Desde a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 660/2015 da Anvisa, que regulamenta a importação de produtos à base de cannabis para fins terapêuticos, pacientes com diversas condições, incluindo depressão, têm buscado essa opção como parte de seus tratamentos. A adesão ao tratamento com cannabis, no entanto, exige que os pacientes procurem médicos previamente habilitados para prescrever esses medicamentos, o que ainda é um obstáculo para muitos devido à falta de informações e ao alto custo dos produtos.

O Dr. Pedro Pierro, neurocirurgião com amplo conhecimento no uso medicinal da cannabis e diretor científico do portal, alerta sobre a importância de um acompanhamento médico adequado. “A conscientização sobre a saúde mental é essencial, mas é igualmente importante que as pessoas saibam que o uso dos compostos da planta devem ser feitos de forma criteriosa e sob a orientação de um profissional qualificado. O uso inadequado pode trazer efeitos colaterais indesejados, especialmente em pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos”, afirma o especialista.

Conscientização e busca por tratamentos inovadores

 

A data, celebrada desde 1992 pela Federação Mundial para Saúde Mental (WFMH), tem como principal objetivo desmistificar as doenças mentais e promover um ambiente em que o diálogo sobre o tema seja aberto e sem preconceitos. Para muitos, ainda há um estigma em torno da busca por tratamento psiquiátrico, o que leva a diagnósticos tardios e agrava as condições.

A depressão, em particular, é muitas vezes subdiagnosticada e subtratada. A inclusão da cannabis medicinal como opção terapêutica traz uma nova perspectiva para pacientes que não respondem bem aos tratamentos convencionais, oferecendo uma abordagem complementar que pode melhorar a qualidade de vida. No entanto, ainda há muito a ser pesquisado sobre os efeitos a longo prazo dos compostos canabinoides no tratamento da depressão.

A conscientização não apenas sobre os benefícios da cannabis medicinal, mas sobre a importância de buscar ajuda qualificada, é fundamental. "A saúde mental é uma prioridade global, e precisamos encorajar as pessoas a falar abertamente sobre seus sentimentos e buscar apoio quando necessário", complementa o Dr.Pierro. Ele enfatiza que o uso de cannabis para fins terapêuticos deve ser encarado com seriedade, sempre com a orientação de um especialista habilitado.

Caminhos para o futuro

 

Com os avanços das pesquisas sobre os efeitos terapêuticos da cannabis, há uma expectativa de que essa alternativa se torne mais acessível e eficaz no tratamento de condições como a depressão. No entanto, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de regulamentação, acessibilidade e formação de profissionais especializados.

Enquanto isso, o Dia Mundial da Saúde Mental continua a servir como um lembrete de que o cuidado com a mente é tão importante quanto o cuidado com o corpo. A quebra de estigmas, a abertura para novos tratamentos e a promoção de um ambiente acolhedor para o diálogo são fundamentais para que mais pessoas possam enfrentar seus desafios de saúde mental com o suporte necessário.

Referências:

 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33332004/

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https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2021.625158/full

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8160288/