Saiba como a cannabis ajudou a cozinheira Júlia a superar depressão e ressignificar a saudade do filho

“Me senti no fundo de um buraco sem saída”, relata a paciente que encontrou alívio na medicina endocanabinoide

Publicada em 05/07/2024

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Por Bruno Vargas

“Eu precisava de ajuda. Mas quando estamos em depressão, um estado quase letal, não percebemos o que necessitamos”, relata Júlia Ponce ao relembrar período de depressão extrema vivido cerca de dois anos atrás, após perder o seu filho em um acidente de carro. Segundo a peruana que mora no Brasil há 27 anos, o sentimento era como estar “fundo de um buraco sem saída”, expressão usada por ela.

 

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Júlia Ponce junto de seu cachorro/ Arquivo pessoal 

 

“Minha vida parou. Não conseguia trabalhar, levantar da cama. Estava sempre sentindo uma dor no corpo todo, uma tristeza muito profunda”, comenta Júlia, que logo após expõe algumas tentativas com medicamentos convencionais, mas que só “serviam para dopar e fazer dormir”.

Cerca de um ano atrás, com a ajuda de amigos e familiares, Júlia se consultou com um médico e iniciou o tratamento com cannabis. Segundo ela, foi a partir do uso medicinal da planta que recuperou a autoestima, passou a sentir novamente a vontade de estar com outras pessoas e retomou a rotina.

“A tristeza da perda de um filho nunca vai embora, convívio com esse sentimento todos os dias. Mas, graças à cannabis recuperei minhas forças e hoje consigo estar presente na vida da minha filha de 16 anos”, relata Júlia.

Hoje, Júlia tem a consciência de que a luta contra a depressão é diária. O processo de controle das crises tem sido possível com a acesso à terapia canabinoide e o apoio dos familiares e amigos.  



Cannabis pode ajudar contra a depressão?

 

Sim, a cannabis pode ajudar no tratamento contra a depressão!

A depressão é uma doença psiquiátrica crônica que produz alteração do humor, caracterizada por tristeza profunda e associada a sentimentos de dor, baixa autoestima, medo, culpa e pode afetar, até mesmo, o sono e/ou o apetite do indivíduo.

É possível compreender a enfermidade em três níveis: leve, moderado e grave. Em todos os casos, é necessário diagnóstico clínico e, principalmente, tratamento adequado multiprofissional, que pode ser feito simultaneamente ao uso de medicamentos.

Pesquisadores da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, descobriram em 2007, por meio de um estudo publicado no Journal of Neuroscience, que o THC em baixas doses tem potencial antidepressivo, além de ser um condutor que estimula a produção de serotonina. No entanto, em doses mais altas, o efeito se reverte e pode realmente piorar a depressão e outras condições psiquiátricas, como psicose. Já o CBD, mesmo em doses altas, não causa tais efeitos negativos. Sabe-se que os canabinoides THC e CBD exercem efeitos sedativos, psicoativos, antidepressivos e antipsicóticos nos consumidores quando administrados juntos.

Em 2013, a University Medical Center Utrecht, na Holanda, divulgou por meio do European Neuropsychopharmacology Journal que a cannabis medicinal pode ser a cura para a depressão e outras doenças mentais. A conclusão veio após a realização de estudo que descobriu que o THC consegue alterar o equilíbrio neurológico e, a depender da dosagem, pode diminuir ou aumentar as percepções de emoções negativas.

Outro estudo, de origem nacional, denominado “Uso terapêutico dos canabinoides em psiquiatria”, de José Alexandre S. Crippa, Antonio Waldo Zuardi e Jaime E. C. Hallak, publicado em 2010 na Revista Brasileira de Psiquiatria, concluiu que o canabidiol apresenta potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico e antidepressivo. Entretanto, mais estudos ainda são necessários para comprovar esses benefícios contra a patologia em questão.


Para acessar os estudos relacionados ao uso da cannabis e depressão clique aqui.